
Por Thais Oliveira
Sempre que falamos de Aristóteles, temos a perspectiva de dotá-lo de qualidades de um pesquisador, de fundador da ciência, o lógico, o filósofo, “o mestre dos que sabem”. Mas pouco se sabe sobre o educador Aristóteles. O que ele falava sobre educação quase não despertou muito interesse nos historiadores.
Porém, como precursor, Aristóteles se dedicou tanto ao ensino quanto à pesquisa. Convenhamos, ele é o protótipo do professor. A parte da sua obra que nos é transmitida ao longo de vinte e três séculos é a sua obra ensinada.
É claro que precisamos de mais orientação para entender o processo de educação, e não ser governado pelo muito falar, pois toda educação começa no ouvido para dominar a gramática, saber usar a concordância primária e a apreensão da língua. Esse é o começo do aprendizado, depois vem a matemática e retórica, cuja capacidade de relacionar a gramática com a imaginação é absorvida. Para Aristóteles, o propósito da educação é semelhante ao propósito do homem. É claro que, toda educação tem como sentido, tornar explícito ou implícito, um ideal humano.
Mas, para Aristóteles, a educação é um princípio para que o homem seja completamente atualizado. Todos nós precisamos de sentido e o bem supremo a que todo homem aspira é a felicidade. Mas o homem feliz de Aristóteles não é aquele selvagem feliz, intratável, não é o homem em seu estado natural bruto, é o homem educado. O homem feliz, o homem bom, é aquele que tem virtude, mas não tem como adquirir virtude sem a educação. Ética e educação é uma coisa só. Sabe os livros que Aristóteles escreveu sobre ética? São manuais para ensinar a arte de viver.
Ao contrário de muitos livros que lemos, na Ética em Nicômaco, Aristóteles se pergunta “se a felicidade é algo que pode ser aprendido, ou se é adquirido pelo hábito ou algum outro exercício, ou se, no final, nos chega compartilhando por um certo favor divino ou mesmo por perigo.” A resposta não nos deixa no vácuo: “A causa realmente determinante da felicidade está na atividade em conformidade com a virtude”. Liberdade é o ato da virtude. Toda ideia de liberdade na civilização ocidental nasce atrelada a uma ética da virtude.
A concepção da liberdade exposta nas mídias é uma visão pautada por uma cosmovisão moderna de mundo caracterizada nessa era moderna por três cânones: O relativismo, o ceticismo e a inexistência de um conceito objetivo de verdade. O que tem como resultado reativamente venerado é que a ausência de um conceito de verdade faz com que os indivíduos estejam autorizados a definir a verdade como um conjunto de signos daquilo que para eles são verdades. Não se tem uma concepção objetiva do que é verdadeiro, daí então se faz uma escala de signos como se fosse verdade, medindo seus ódios e amores a partir desses signos, e como regra geral, o que deve imperar é o desprezo pela verdade, o bem e a beleza.
Antes de passarmos a questão intelectual, a alma é aquilo que anima o corpo, que em si pode ser algo surpreendente, vamos considerar que esta alma possui certas capacidades para o conhecimento do ser e seus predicados essenciais. A alma pode conhecer objetivamente a verdade, o bem e a beleza por meio dos potenciais intelectuais, potenciais da vontade e a potência da memória.
Pitágoras valoriza muito a potência do intelectual, Platão considera extremamente importante a memória representada pelo tempo e a eternidade, junto com os mistérios da imortalidade da alma que se sustenta no esforço para lembrar do passado, numa retrospectiva que aprofunda o início de tudo. Quando viajamos em Aristóteles o intelecto e a vontade possui enorme importância sendo aperfeiçoados no cristianismo.
A partir daí, nós inteligimos, lemos o Ser de dentro para fora ou o que simplesmente ocorre é a absorção do primeiro conceito de Ser como verdadeiro. A vontade quer o bem e toma o conceito de bem para si, pois as coisas são apetecíveis para nós. A beleza é o somatório do bem com a verdade. A potência da alma para adotar como belo é a memória.
Quanto mais você exercitar o intelecto, a vontade e a memória, mais a sua vida será bela, o que produz integridade que em latim destaca-se como integritas, ou sintonia entre o interior e o exterior. Os antigos definiam isso com uma palavra: Paideia, palavra de origem grega clássica, traduzida como formação do espírito e do caráter, nas artes iliberais e mecânicas somada a empatia com os outros, philia, que retirado do tratado de Ética a Nicômaco de Aristóteles, o termo diz respeito à “amizade”, e às vezes também ao “amor” na hierarquia dos afetos, ao contrário da filosofia barata de autoajuda.